Os fazedores de
moda em Angola lutam pela cultura da moda no país, na medida do possível. O
nosso país tem muitos problemas económicos, políticos e culturais e realmente a
moda não é uma das prioridades, tão pouco algo de grande importância. Assim
como Lisete Pote, Lucrécia Moreira, Elisabeth Santos, dentre outras que abriram
e desenharam o caminho para o surgimento de outros estilistas, ou ainda como a
extinta agência de modelos Mangos descobria as modelos, é importante abrir-se
espaço para outros… A função da moda é essa, isso é o que deixa o negócio
fresco.
1.
DESIGNERS
NÃO FORMADOS
É
bem verdade que a formação não vale mais do que o talento natural e que a
história da moda mundial foi iniciada por profissionais não formados, numa
altura em que não existiam escolas de design e que o seu legado permanece até
aos nossos dias. Contudo, é necessário nos dias de hoje uma formação na área ou
em alguma outra área das artes e negócios.
Hoje em Angola banaliza-se a
profissão de designer. Toda e qualquer pessoa o é, ou pelo menos diz ser. Temos
hoje no mercado designers que não sabem o que é um processo de criação, sem
noções de fabricação de peças, que nunca pegaram num lápis de cor, mal sabem
defender a sua própria colecção e que volta e meia apanham um voo para outros
países e surgem com colecções sem nexo vindas de ‘’Nárnia’’, outros por se
julgarem fashionistas, surgem como designers.
Quantas histórias já ouvimos de
estilistas que rebuscavam roupas nos fardos e as modificavam? Se queremos um
mercado solido há a necessidade de se separar o trigo do joio.
2. AGÊNCIAS
DE MODELOS NÃO CERTIFICADAS
O
facto de existirem milhares de agências pelo país sem nenhum bom plano de
negócio ou ainda uma estrutura adequada para o desempenho deste tipo de negócio
faz com que pouca credibilidade se dê ao mercado dos agentes de modelos.
Sim,
as pessoas são livres de criarem o negócio que bem entenderem, contudo, criar uma
agência de ‘’fundo de quintal’’, sem nenhum registo e modelos sem qualidade não
os torna profissionais da área.
3.
AUSÊNCIA
DE UM CONSELHO DE ESTILISTAS DE MODA DE ANGOLA
Seria
importante criar-se um Conselho de Estilistas de Moda de Angola, uma associação
sem fins lucrativos e que reunisse os mais importantes designers de moda
feminina, masculina, jóias e acessórios do país criada para arrecadar fundos
para actividades de caridade e relacionadas a industria com a missão de
fortalecer a influência e o sucesso dos designers angolanos no mercado nacional
e internacional.
Essa associação deverá velar por todos e não defender
interesses individuais ou de um grupo dentro dela.
4.
EVENTOS
DE MODA FAKES
Seja
para o lançamento de uma grife, marca ou de uma colecção, os eventos de
moda nunca foram tão importantes para impulsionar o crescimento do
mercado. Por isso antes de organizar um evento como este, é
necessário atenção, requer um bom staff, planeamento,
organização, dedicação e muito profissionalismo.
A
organização de um evento de moda é dispendiosa e ainda que seja possível
organizar-se um bom evento com um budget apertado, o profissionalismo, a
organização e a criatividade falam mais alto.
Não é qualquer pessoa que está
qualificada para organizar um evento, uma vez mais a formação fala mais alto.
Eventos de esquina, organizados por pessoas que a qualquer custo querem
aparecer ou causar sensação só denigrem a boa imagem e o crescimento que se
quer dar a moda nacional.
5. FALTA
DE VERACIDADE NOS CONCURSOS DE DESIGN
Geralmente
os concursos de design são abertos ao público em geral, estudantes e
profissionais da área e ainda que se restrinjam aos profissionais da área, a
escolha do vencedor privilegia sempre este ou aquele com maior influência,
ainda que não apresentem os melhores trabalhos, quer dizer, por melhor e mais
completo que seja o seu projecto, nunca conseguirá o lugar. Primeiro as
comadres e os compadres.
6. TROFÉUS DE MODA
Tornou-se
moda por cá entregar-se troféus. Não há critérios para a nomeação dos candidatos
que são selecionados, na maior parte das vezes por grupos não capacitados, credenciados
e credíveis.
O mais perturbador é que os profissionais da área ficam
extremamente felizes com tais nomeações e premiações não reconhecidas em parte
alguma do mundo talvez pela ânsia de verem de alguma forma o seu trabalho
reconhecido.
7.
FRACO
JORNALISMO VOLTADO A MODA
A
internet deu voz a todo o mundo e escrever sobre moda tornou-se a coisa mais
fácil quando na verdade escrever sobre o assunto exige mais do que bom gosto e
bons relacionamentos.
Escrever uma crítica de moda exige muito da pessoa, é
preciso tomar cuidado e respeitar o trabalho alheio antes de sair por aí a
escrever, atacar e não argumentar. Ler, pesquisar e aprofundar os seus
conhecimentos não só sobre estilo como também sobre história da moda e outros
assuntos é imprescindível.
Revistas
de moda existem sim, e estão cada vez melhor, contudo ainda não produzem
artigos 100% voltados ao mercado angolano.
Faltam
blogs, sites, programas e pessoas que se arrisquem.
8.
MANIA
DA PERFEIÇÃO
Karl Lagerfeld, Raf Simons, Anne Wintour e tantos
outros profissionais são diariamente alvos de críticas mas não vivem a apelar
pela inveja. Preocupam-se em melhorar o seu trabalho e a se superarem a cada
dia afinal nós não agradamos a gregos e a troianos.
9. DESVALORIZAÇÃO, DESRESPEITO E DESDÉM
A estrela nos eventos de moda é o designer, sem ele o
show não se realiza mas infelizmente estes profissionais sofrem humilhações
como se lhes estivessem a fazer um favor.
Pagam os músicos, os comediantes… mas
o designer é marginalizado e posto de parte. O próprio design também não se
auto valoriza, humilha-se e não exige os seus direitos.
São poucos os que se
arriscam. Estes sim merecem o nosso respeito.
10. A MÁXIMA DA
INDUSTRIA TÊXTIL
Não é de hoje que os designers angolanos reclamam da
ausência de industrias têxteis no país, mas hoje isso não é desculpa. Sim,
facilitaria de certo modo o trabalho de muitos e o governo angolano tem
trabalhado para torná-la numa realidade mas também é verdade que a moda não é
uma arte é um negócio que movimenta milhões e exige um grande investimento por
parte de quem trabalha na área.
Quem não possui capital inicial, dificilmente
singra neste mercado que exige constantemente aperfeiçoamento, parcerias,
inovações e viagens.
Mil likes
ResponderExcluirwow. adorei e aprendi.
ResponderExcluirAgradeço-te por teres gostado Yan, existem muitos mais pontos a serem analisados. Um forte abraço e mantém-te sempre ligada ao blog.
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