A moda influência de forma directa um individuo e o mais interessante da nela é que, mesmo sem perceber, tudo está ligado à ela, pois a moda vem de tudo que está ligado ao comportamento, ao que se consome, está ligado à expressão. Com ela, o fazedor de moda, tem o poder de manipular o seu comportamento – e o dos outros.
A contemporaneidade é marcada fundamentalmente pelas relações entre indivíduo, sociedade, signos e mercadorias. A nossa relação com os objectos hoje, é fruto da mudança dos valores funcionais para os valores de signo, ou seja, a funcionalidade do objecto fica em segundo plano, e nos interessa, no entanto, o que ele representa.
Hoje procuramos o novo a todo o momento e a qualquer custo. Dessa forma, a moda, é caracterizada pelo ciclo efémero da vida dos produtos, torna-se categoria cultural e também objecto de estudo de filósofos e sociólogos. Em cada objecto criado, há um sonho realizado, um objecto sonhado...
A INFLUÊNCIA SURGE DAS…
As telenovelas brasileiras, tão assistidas em Angola, têm uma forte influência no comportamento consumista do angolano. Através delas, muita propaganda é feita; é como se elas nos hipnotizassem e encaminhassem-nos para um mundo de desejo, sonho e satisfação. Elas ditam formas de vestir, músicas a ouvir, formas de pentear, falar… E essa moda, essa ditadura, alastra-se que nem uma peste!
Quem não tiver esse objecto de desejo, de sonho, esse signo (que embora seja uma futilidade que liga o consumidor - o telespectador a personagem), não está na moda!
QUANDO SOMOS ‘’DEMODÉ’’
Tu tens um armário cheio de roupas, sapatos e bolsas em bom estado que não podes mais usar porque a moda está ultrapassada. Um carro na garagem de a 5 anos atrás que é visto pelos vizinhos abastados com desdém e um sorriso complacente quando tu chegas. Um computador do ano de 2006, com um monitor enorme e branco no seu escritório que faz com os seus prováveis clientes desistam de fazer negócio consigo, sem realmente conhecerem o seu trabalho. Um telemóvel que não tem MP3, nem recurso de câmara fotográfica e vídeo embutido, nem toques com uma música divertida, muito menos acesso à Internet e assim por diante...
A cada nova compra já estamos a pensar na próxima! A efemeridade da moda acaba funcionando como antídoto para curar a ansiedade e saciar em pequenas porções a sede de emoções. A cada semana, uma nova colecção nas vitrinas das boutiques, a cada dia um novo capítulo da novela das oito, a cada seis meses a nova versão do carro do ano, um novo restaurante, cantina, bar... Imperdível é inaugurado.
A SOLUÇÃO PARA A ACEITAÇÃO COLECTIVA E INDIVIDUAL
Não é em vão que estamos endividados nos bancos, a utilizar cartões de crédito, cheques especiais, a pagar centenas de prestações de tudo aquilo que é possível comprar, e trabalhando… trabalhando exaustivamente, para termos o direito de sermos aceites pela sociedade.
Então, aquele nosso tempo livre e idealizado continua uma utopia, pois até quando acreditamos que estamos a “desfrutar da vida”, estamos na verdade a consumir mais: em bares, espectáculos, viagens com roteiros óbvios, a comprar objectos de desejo em shoppings ou serviços de estética, a tentar a todo o custo, literalmente, em sermos melhores do que somos, porque isso é claro na nossa sociedade, nós nunca somos bons o suficiente.
MAS QUEM CONSEGUE CARREGAR O PESO DA DESACTUALIZAÇÃO?
Quem quer ser marcado por rótulos como “brega”, “demodé”, “pobre coitado”, entre tantos outros, se os próprios mecanismos recenseadores contam a sociedade e a classificam de acordo com os bens que as pessoas possuem? Somos todos, então, actores no “teatro” do consumo! O pior é que somos actores do teatro do consumo estrangeiro.
Os estilistas angolanos, têm uma dificuldade muito grande em ditar moda em Angola e o estrangeirismo abarrota as vitrinas, aproveitando-se da ausência das indústrias têxteis no país, que impossibilitam que estes façam moda para todos (em massa e acessível a todos os bolsos) e o número de fashion victims no país tem aumentado avassaladoramente. Daqui a nada viveremos numa sociedade em que seremos clones uns dos outros e em cada esquina que virarmos, encontraremos alguém quase tão parecido connosco, simplesmente por sermos todos influenciados pela mesma moda, mesmo que esta não nos identifique.
A culpa disso será toda nossa pois não permitimos que determinados estilos de vida e moda instalem-se entre nós!
A nossa preocupação em consumir o último grito, em sermos os primeiros a ter isso ou aquilo e esparramarmos no rosto dos mais próximos a nós, a fim de sermos invejados e sermos um exemplo a seguir, leva-nos a comprarmos de forma descontrolada, como se a indústria e o nosso ego nos controlassem com um controlo remoto.
Uns acusariam a moda de “frívola”, “superficial” e “fútil”. Ora, nesse desejo de vida total que se expressa paradoxalmente por essas formas ténues e superficiais que são as aparências, uma voz tenta sussurrar uma verdade surpreendente: nada é mais fútil do que nossos esforços para tornar tudo sério, útil, racional; nada é mais sério do que o fútil!
Como pode ser considerado fútil algo que é inerente a nós, como o vestuário, fútil é o preconceito, que afasta os cursos de moda das Universidades.
Já desde os mitos ancestrais, como a folha de parreira usada por Adão e Eva no Paraíso, a moda está presente!
Efemeridade, fervor de novidades e valor simbólico são os vértices que ordenam o universo da moda, aliados às armadilhas da publicidade, dos mass média e do poder aquisitivo dos estratos sociais. É por causa desse desejo simbólico, dessa vontade de aquisição, que muitos enveredam para o mundo da criminalidade, da prostituição...
A moda, seja ela vestuário, música, tecnológica… age sobre todo o indivíduo como um chip incutido nas nossas tão frágeis mentes, levando-nos a praticar actos, por vezes bárbaros, para a termos sempre presente e a mão.
"O mundo sem moda seria triste e cinzento e muita gente não teria do que viver!"
Pierre Cardin
Por isso, antes de afogar-se em compras, de qualquer tipo, pare e pense no que está realmente a precisar no momento. Pode ser qualquer coisa, amor, apoio, uma risada demorada e boa, dormir... Procure exactamente o que precisa, perdoe-se, aceite-se e simplesmente relaxe. Fique tranquilo que a vida sempre nos mostra o melhor caminho, aquele que nos leva directo à felicidade, o estado mais natural de todas as coisas.
Oi Jurema...fico feliz por voltar aqui ao teu Blog e me deparei com este post que numa 1ra olhade-lá disse: é tão grande (Falou a minha preguiça por leitura) mas voltei atrás e disse, vai valer a pena! E como...Olha assumindo, aceitando, sou uma consumidora em tratamento! LOL...é serio, pode parecer brincadeira, mas já não me deixo fazer gastos exorbitantes e desnecessários... confesso que é muito difícil ou quase impossível... mas é mais satisfatório quando na verdade damos conta de que não estava a precisar...guardei dinheiro, que será gasto na mesma, mas talvez com coisas mais importantes! Compras ja foi terapia para mim...achava que me sentia melhor... mas é tudo efeito do consumo sem medidas! Como os mais velhos diziam quando serviamos muito e não acabavamos: "Mais olhos do que barriga" é verdade!
ResponderExcluirGostei imenso deste post, relativamente ao que dizes "que somos todos actores do teatro de consumo" é verdade, de uma maneira ou de outra, uns mais do que os outros evidentemente! Mas em relação ao sermos actores do consumo estrangeiro é opcional, digo isto porque o nacional não nos permite...não temos industrias! Mas adoro os nossos Quitutes...hehehehe pois se não partir de nós a valorizar o que é nosso primeiro não podemos ser actores do teatro do consumo nacional. A isto eu chamo um problema de identidade...estou com muitos posts para fazer em relação a "Identidade"
Beijinhos...
www.claudiaclaki.blogspot.com
Claudia meu amor eu preciso de ajuda! Sou louca por sapatos e quase sempre compro sem necessidade alguma. Tens razão quando dizes que o consumo estrangeiro é opcional uma vez que não temos industrias suficientes para suprirem as nossas necessidades, contudo valorizar o pouco que temos nunca é demais. Quitutes?! Estou agora a salivar... bjinhos
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