23.7.14

Dez razões para a moda em Angola não crescer como se espera


Os fazedores de moda em Angola lutam pela cultura da moda no país, na medida do possível. O nosso país tem muitos problemas económicos, políticos e culturais e realmente a moda não é uma das prioridades, tão pouco algo de grande importância. Assim como Lisete Pote, Lucrécia Moreira, Elisabeth Santos, dentre outras que abriram e desenharam o caminho para o surgimento de outros estilistas, ou ainda como a extinta agência de modelos Mangos descobria as modelos, é importante abrir-se espaço para outros… A função da moda é essa, isso é o que deixa o negócio fresco.



1.      DESIGNERS NÃO FORMADOS


É bem verdade que a formação não vale mais do que o talento natural e que a história da moda mundial foi iniciada por profissionais não formados, numa altura em que não existiam escolas de design e que o seu legado permanece até aos nossos dias. Contudo, é necessário nos dias de hoje uma formação na área ou em alguma outra área das artes e negócios. 

Hoje em Angola banaliza-se a profissão de designer. Toda e qualquer pessoa o é, ou pelo menos diz ser. Temos hoje no mercado designers que não sabem o que é um processo de criação, sem noções de fabricação de peças, que nunca pegaram num lápis de cor, mal sabem defender a sua própria colecção e que volta e meia apanham um voo para outros países e surgem com colecções sem nexo vindas de ‘’Nárnia’’, outros por se julgarem fashionistas, surgem como designers. 

Quantas histórias já ouvimos de estilistas que rebuscavam roupas nos fardos e as modificavam? Se queremos um mercado solido há a necessidade de se separar o trigo do joio.

2.   AGÊNCIAS DE MODELOS NÃO CERTIFICADAS

O facto de existirem milhares de agências pelo país sem nenhum bom plano de negócio ou ainda uma estrutura adequada para o desempenho deste tipo de negócio faz com que pouca credibilidade se dê ao mercado dos agentes de modelos. 

Sim, as pessoas são livres de criarem o negócio que bem entenderem, contudo, criar uma agência de ‘’fundo de quintal’’, sem nenhum registo e modelos sem qualidade não os torna profissionais da área.

3.      AUSÊNCIA DE UM CONSELHO DE ESTILISTAS DE MODA DE ANGOLA

Seria importante criar-se um Conselho de Estilistas de Moda de Angola, uma associação sem fins lucrativos e que reunisse os mais importantes designers de moda feminina, masculina, jóias e acessórios do país criada para arrecadar fundos para actividades de caridade e relacionadas a industria com a missão de fortalecer a influência e o sucesso dos designers angolanos no mercado nacional e internacional. 

Essa associação deverá velar por todos e não defender interesses individuais ou de um grupo dentro dela.

4.      EVENTOS DE MODA FAKES

Seja para o lançamento de uma grife, marca  ou de uma colecção, os eventos de moda nunca foram tão importantes para impulsionar o crescimento do mercado. Por isso antes de organizar um evento como este, é necessário atenção, requer um bom staff, planeamento, organização, dedicação e muito profissionalismo.

A organização de um evento de moda é dispendiosa e ainda que seja possível organizar-se um bom evento com um budget apertado, o profissionalismo, a organização e a criatividade falam mais alto. 

Não é qualquer pessoa que está qualificada para organizar um evento, uma vez mais a formação fala mais alto. Eventos de esquina, organizados por pessoas que a qualquer custo querem aparecer ou causar sensação só denigrem a boa imagem e o crescimento que se quer dar a moda nacional.

5.   FALTA DE VERACIDADE NOS CONCURSOS DE DESIGN

Geralmente os concursos de design são abertos ao público em geral, estudantes e profissionais da área e ainda que se restrinjam aos profissionais da área, a escolha do vencedor privilegia sempre este ou aquele com maior influência, ainda que não apresentem os melhores trabalhos, quer dizer, por melhor e mais completo que seja o seu projecto, nunca conseguirá o lugar. Primeiro as comadres e os compadres.

6.      TROFÉUS DE MODA
Tornou-se moda por cá entregar-se troféus. Não há critérios para a nomeação dos candidatos que são selecionados, na maior parte das vezes por grupos não capacitados, credenciados e credíveis. 

O mais perturbador é que os profissionais da área ficam extremamente felizes com tais nomeações e premiações não reconhecidas em parte alguma do mundo talvez pela ânsia de verem de alguma forma o seu trabalho reconhecido.

7.      FRACO JORNALISMO VOLTADO A MODA

A internet deu voz a todo o mundo e escrever sobre moda tornou-se a coisa mais fácil quando na verdade escrever sobre o assunto exige mais do que bom gosto e bons relacionamentos. 

Escrever uma crítica de moda exige muito da pessoa, é preciso tomar cuidado e respeitar o trabalho alheio antes de sair por aí a escrever, atacar e não argumentar. Ler, pesquisar e aprofundar os seus conhecimentos não só sobre estilo como também sobre história da moda e outros assuntos é imprescindível.

Revistas de moda existem sim, e estão cada vez melhor, contudo ainda não produzem artigos 100% voltados ao mercado angolano.

Faltam blogs, sites, programas e pessoas que se arrisquem.

8.      MANIA DA PERFEIÇÃO

Karl Lagerfeld, Raf Simons, Anne Wintour e tantos outros profissionais são diariamente alvos de críticas mas não vivem a apelar pela inveja. Preocupam-se em melhorar o seu trabalho e a se superarem a cada dia afinal nós não agradamos a gregos e a troianos.

9.     DESVALORIZAÇÃO, DESRESPEITO E DESDÉM

A estrela nos eventos de moda é o designer, sem ele o show não se realiza mas infelizmente estes profissionais sofrem humilhações como se lhes estivessem a fazer um favor. 

Pagam os músicos, os comediantes… mas o designer é marginalizado e posto de parte. O próprio design também não se auto valoriza, humilha-se e não exige os seus direitos. 

São poucos os que se arriscam. Estes sim merecem o nosso respeito.

10.  A MÁXIMA DA INDUSTRIA TÊXTIL

Não é de hoje que os designers angolanos reclamam da ausência de industrias têxteis no país, mas hoje isso não é desculpa. Sim, facilitaria de certo modo o trabalho de muitos e o governo angolano tem trabalhado para torná-la numa realidade mas também é verdade que a moda não é uma arte é um negócio que movimenta milhões e exige um grande investimento por parte de quem trabalha na área. 

Quem não possui capital inicial, dificilmente singra neste mercado que exige constantemente aperfeiçoamento, parcerias, inovações e viagens.

3 comentários:

  1. Respostas
    1. Agradeço-te por teres gostado Yan, existem muitos mais pontos a serem analisados. Um forte abraço e mantém-te sempre ligada ao blog.

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