Conversa Furada Com Mirian Abreu

''O estilista é o profissional que trabalha com a criação de estilos de roupas e acessórios, desenha peças, desenvolve projectos de colecções e elabora desfiles para divulgar o seu trabalho. O estilista trabalha directamente com a criatividade e deve estar sempre inteirado das tendências da moda dentro e fora das passarelas, bem como deve entender da cultura regional e mundial, para, assim, poder atingir corretamente o seu público-alvo.''

Mirian Abreu, faz parte do grande grupo de estilistas da vanguarda (por pensar a frente do grande leque de estilistas existentes no país e da sua época) em Angola, criadora de um estilo único, tendo os drapeados como cunho pessoal acompanhados por uma cartela de cores vivas.

Mirian Abreu, uma estilista da vanguarda 

Qual foi o seu primeiro contacto com o mundo da moda? Como conheceste o universo fashion?

 Foi quando tornei-me co-proprietária da KORPUS, depois como representante em Angola de uma das marcas de biquíni Brasileira, passei a receber convites para o São Paulo Fashion Week.

Foto da inauguração da Korpus em 2006

Porquê que se tornou estilista? O que levou-lhe a tomar esta decisão?

 A arte de criar é uma paixão que tenho desde muito nova, e essa minha faceta foi-se inclinado para a moda. A minha irmã mais nova, Tânia Abreu, sempre acreditou no meu talento e desafiou-me a participar no Huila Fashion 2010. Depois de ponderar, decidi dedicar-me profissionalmente a moda, mas claro que a apreciação e o retorno de inúmeras pessoas incentivaram-me e deram-me confiança.

Desfile de Mirian no Huíla Fashion 2010

Tem algum estilista favorito, que lhe serviu/sirva de inspiração ou mesmo de referência?

 Alexander Macqueen e Marc Jacobs.

O que mais lhe atrai no universo da moda?

 A moda é um fenómeno muito mais complexo do que geralmente se pensa, e para compreendê-la, no seu todo, é preciso estudar e estar atenta ao mundo, como o que me atrai é a capacidade de poder explorar o imaginário, é essencial combinar muito estudo para que o meu trabalho se sustente e possa ser interpretado.

O fenómeno complexo do qual a estilista fala representado no videoclip do grupo musical angolano Zona 5

Qual foi o seu primeiro trabalho como estilista? E como foi desenvolvê-lo?

 Huila Fashion 2010. E foi o meu maior desafio porque a minha irmã já tinha mostrado alguns trabalhos meus que tinha feito para ela, e tinha-me inscrito para participar, sem o meu conhecimento. Quando aceitei a proposta, já tinha pouco tempo e nada preparado. E quando digo nada, era mesmo nada. Arrisquei o que tinha e corri atrás do que não tinha.

Dedicação e criatividade durante a produção da sua colecção para o Huíla Fashion

Fale-nos um pouco a respeito da sua marca Mirian Abreu.

 A minha marca tem muito a ver com um lado meu que poucos conhecem, e que ainda não consegui mostrar. Adoro detalhes, brincar com as cores e moldar tecidos, reaproveitar sempre o que pode ser reaproveitado e transforma-lo. Por outro lado, não deixa de ser também uma marca arrojada e ousada, claro que sem perder o glamour.

O arrojo e a ousadia estampados nesta bela criação da estilista

Como é ter a oportunidade de conviver com outros estilistas que buscam as mesmas chances?

 É uma oportunidade única que tento explorar da melhor maneira possivel. Digo sempre que a área VIP para mim é os bastidores porque é onde acabamos por ter não só a melhor visão, mas a oportunidade de conviver directamente com os grandes responsaveis do evento.

A estilista nos bastidores de um dos maiores eventos de moda de Angola- Moda Luanda 2011

Como vê o mercado da moda angolana? Quais as maiores dificuldades que encontra no ramo?

 Apesar de termos grandes talentos em Angola, ainda temos um mercado de moda. Temos boas iniciativas mas elas depois não são sustentadas com políticas mais abrangentes que podiam fortalecer e fazer crescer esse mercado. Infelizmente, talento, dedicação, seriedade, trabalho e esforço não são elementos suficientes para que isso aconteça. Acabam por ser peças individuais de uma máquina, e não a máquina completa. Precisamos de indústria têxtil para produzirmos e termos aqui os tecidos, materiais, e as colecções dos estilistas.

Uma das colecções da estilista Miran Abreu (Moda Luanda 2011)

 Por fim, quais são seus planos e perspectivas para o futuro?

 Planos é que não me faltam, mas prefiro continuar a viver cada dia e lutar diariamente para que todos esses projectos se realizem.