15.4.12

Obdiência sem questionar- African Destiny

''A eterna busca pelo novo no universo da moda é algo que está além do que se vê nas passarelas e em grandes marcas. Buscar algo que transforme este mundo talvez seja o mote do discurso atual, pois é fato, que hoje em dia, a moda meio que se tornou um lugar comum no sentido negativo, mas não pejorativo, pois se percebe que por muitas vezes o exagero e o extravagante sejam os únicos métodos de se atingir tal feito, o de chamar a atenção.
Conceito? Autoria? Pode até ser, mas moda também é vestir-se. E cá venhamos, vestir-se bem e confortavelmente. Não adianta nada um grande estilista ser criativo e não podermos usar suas criações, por ‘N’ motivos, como volume, peso, espaço, diâmetro, cores, e que não prejudique o nosso bolso, por que não? Novamente, tais vestimentas conceituais passarão por crivos financeiros e serão reduzidos ao que seja comercial, sendo relidos em novas peças mais “wearables” ou usáveis. O mundo é ágil e ele exige que a pessoa seja mais ágil ainda.
O pecado mora ao lado, quando se quer ser ‘avant garde’, pois o mundo da releitura e ou da autoria é sutil, uma linha fina que separa os dois, mas ao mesmo tempo os une.''
in Fashion Bubbles

Anos atrás, a critica de moda brasileira Daniela Pinheiro, escreveu uma matéria sobre a autoria e cópia de roupas feitas por estilistas brasileiros e os estilistas internacionais. Na matéria, ela descreve o trabalho de duas estilistas:



 “Paris, outubro de 2005. No desfile da grife Chloé, uma modelo de cabelos escuros percorre a passarela num vestido mostarda de mangas compridas, na altura do joelho, com dois enormes bolsos laterais, três pares de botões na altura do peito e uma espécie de lapela branca que cruza o pescoço.
 Rio de Janeiro, janeiro de 2006. No desfile da grife Layana Thomaz, uma modelo de cabelos escuros percorre a passarela num vestido caramelo de mangas compridas, na altura do joelho, com dois enormes bolsos laterais, três pares de botões na altura do peito e uma espécie de lapela branca que cruza o pescoço”.

O que vos falo acima, é para mostrar-vos a maneira descarada como alguns estilistas copiam a roupa uns dos outros.
Há dias, a estilista Felicia Mahatma, no seu mural do facebook, disse e bem:
''No mundo da moda:Cópia: Reprodução de uma obra.Inspiração: Estado da alma quando influenciada por uma potência.Isso dá o que falar quando não se percebe o limite entre uma e outra...''
Essa afirmação de Felícia, coincidiu com esta minha pretensão ao querer escrever esta matéria. As pessoas precisam compreender que ser estilista vai muito além de apresentar uma colecção numa passerela.

Fica na história da moda angolana, as tentativas ''vãs'' da estilista Yana Van Dunem, de tentar desmascarar certos profissionais no ramo da moda angolana que se auto intitulavam como estilistas e que tal como o Diabo, enganam, roubam e destroem só para a custa da ignorância dos outros tirarem lucros e ganharem destaque.

Muitos conhecem a marca angolana African Destiny, pertencente a dupla Berta e Zamira Rodrigues, também proprietárias da boutique Bizare. Esta dupla, conhecida por vestir muitas figuras públicas angolanas, apresentou-se como ''estilistas'' na última edição do Moda Luanda, apresentando uma colecção comercial, na qual, algumas peças foram destaque na Revista Chocolate do mês que se sucedeu ao evento.

A modelo trajando African Destiny

A peça acima, é idêntica a um modelo trajado pela cantora Rihanna a uns tempos atrás  como podem ver na imagem abaixo.
A cantora trajando a peça em questão

Rihanna VS African Destiny

Falta de criatividade? Não sei! Arrisco o palpite de que o factor predominante seja o de capital de giro. Quer queira quer não, as marcas sobrevivem através da venda, que resumidamente tem a premissa das peças comerciais e não do conceitual, que não sustentam uma marca.



A cantora traja um fato- macacão de comprimento curto, com duas alças que partem do centro do busto e ligam a parte traseira do fato, com um ziper frontal, estampado com as cores preto, cinza e branco.

Berta e Zamira, apresentaram um fato- macacão de comprimento curto, com duas alças que partem do centro do busto e ligam a parte traseira do fato, com um ziper frontal, estampado com as cores preto, cinza e branco.


A semelhança entre os dois trajes e visível até mesmo para os que não entendem sobre modelagem; diferença?! A estampa!

Mais do que se dar ao esforço em pesquisar e criar seus próprios desenhos, a dupla escolheu copiar de forma consciente e de modo quase que fiel o traje da cantora.

Eu sei que existem por aí N ''estilistas'' angolanos que andam por aí a copiar roupas. Angola não é excepção; marcas mundialmente conhecidas também o fazem e milhões de dólares correm pelos tribunais como pagamento de indemnizações pelas cópias produzidas.

''(...)obediência sem questionar.''

vaako in Crónicas de Riddick

Infelizmente, as pessoas não se questionam sobre nada nesse país, se o fazem lembram-se logo do ''Xé menino não fala politica'' e por aí vamos.

O Aspiração do Sublime, entrou em contacto com Zamira, e falamos a respeito do assunto. Infelizmente o esclarecimento não foi dos melhores e só agitou ainda mais a peneira:

Jurema Ramos: Dear Zamira! Espero que esteja bem.Escrevo-lhe pois pretendo escrever uma matéria no meu blog, sobre uma possível cópia feita pela vossa dupla, na vossa colecção apresentada no Moda Luanda 2012. Antes de escrever gostaria imenso que me dissesse alguma coisa com relação as fotos que envio em anexo. bjinhos
Agora fiquei sem compreender se vocês funcionam como boutique ou também são estilistas.Se forem somente boutique o porquê da vossa participação no Moda Luanda. bjinhos

Zamira Rodrigues:  Temos boutique, e tambem somos estilistas...

Jurema Ramos: Então se participaram no ML 2012 como estilistas, o porque do macacão igualzinho ao da Rihanna? Eu não quero causar qualqr tipo de intriga pois estás imagens chegaram até mim por meio de uma leitora que interrogou-me quanto a semelhança dos trajes. Espero que me possa esclarecer para não parecer que falei de vocês sem o vosso conhecimento e temos sempre que ouvir todos os lados. Para facilitar temos como falar ao telefone ou mesmo nos encontrarmos hj?

Zamira Rodrigues: Nao estou em luanda, mais podemos falar noutra altura...

Jurema Ramos: Quando regressa?

Zamira Rodrigues: Ja abri o teu anexo, ja sei do que estas a falar...Não sei se acompanhas te, as entrevistas que nos demos.Não, nos mesmo na altura do moda Luanda nos dissemos que a nosso linha é inspirada em modelos Europeus, e Americanos usando tecidos Africanos.. É por isso que a nossa marca chama-se African Destiny, sair do Ocidente indo para Africa.. Tanto que nos dissemos, que somos tipo ZARA, H&M, se fores haver são conceitos iguais, MODELOS da Marc Jacobs, D&G e VERSAGE entre outros .Adaptados para uma certa realidade.. Espero ter esclarecido, BJS.

Fim da conversa!


Ba, Be, Bi, Bo, Bu! Bahhhh... Há uma confusão entre inspiração e cópiar. Todo o estilistas (artista), antes de iniciar uma obra inspira-se em alguma coisa. A inspiração é a base para o desenvolvimento de uma colecção.


O Manual do Estilista de Sue Jenkyn Jones aborda o tema inspiração, criatividade e estilo pessoal:

'' InspiraçãoA moda, expressa o ''espirito do tempo'', e portanto espelha-se as mudanºas na sociedade. Para buscar inspiração o estilista precisa manter olhos e ouvidos abertos: frequentar lojas, clubes, cafés, galerias; assistir shows e filmes; ler revistas, jornais e livros; ir a festas e ouvir músicas; e acima de tudo observar as pessoas e absorver as subtis mudanças estéticas que acontecem na sociedade. A chave para criar novas ideias é anotar as influencias em um caderno e depois mescla-las com o que você está aprendendo sobre tecidos, detalhes de moda e mercados-alvo.(...)''
''Criatividade e estilo pessoal
(...) No entanto, para se tornar um estilista você precisa fazer mais do que meramente dominar um corpo de conhecimento. Você precisa enxergar além daquilo que já existe e descobrir novas combinações de ideias e materiais (...). 
Em momento algum o livro fala em copiar seja o que for, uma vez que plágio é considerado crime! Buscar inspiração nada tem a ver com reproduzir determinadas roupas de determinadas griffes e mudar somente o tecido. Isso é ser criativo e estilista minha gente? Vamos acordar! O mercado da moda angolana, além de estar a ser tomado por estrangeiros que nada vêm acrescentar e sim levar dividendos, também está tomado por impostores. Em Angola existem milhares de jovens talentosos (conheço milhares) que fervem de tanta criatividade mas infelizmente não encontram apoio em lado algum, uma vez que estes são dados de amigos para amigos (sistema CUNHA!) e as nossas passarelas tem sido ultrajadas com milhares de cópias aceites obedientemente tanto pelos realizadores dos eventos (muitos deles têm conhecimento de muitos plagiadores mas como o assunto mais importante para eles é o MONEY...), como do publico que vai para lá aplaudir e não está informado sobre o que se passa no mundo e na moda.

Existem sim alguns choques de determinadas peças de roupas mas estes casos são raros e geralmente há um total anonimato das partes, em direito existem casos parecidos com relação a bens móveis e imóveis e é conhecido como Apropriação de Boa Fé, o que neste caso não se aplica pois as estilistas são detentoras de uma loja e estão antenadas sobre tudo o que se passa no mundinho das celebridades como prova o mural do Facebook de Zamira que está sempre actualizado com novas tendências.

Mas quem copia pensa que as pessoas jamais se aperceberão de tamanha falsidade? Não sei o que se passa na cabeça dessa gente mas a verdade é que desenhar uma colecção está cada vez mais fácil, basta acessar a internet e pesquisar por N trajes e com algum malabarismo criar uma certa coerência entre eles.

Prestem atenção ao exemplo abaixo:

Nome da colecção: Urbano
Inspiração: Decide-se após a colheita de imagens na internet


Selecção de várias imagens da internet em variados looks para formar a colecção URBANO

Após essa selecção, é só escolher uma nova cartela de cores, que também pode ser obtida na internet:


Da cartela acima, selecciona-se a linha que mais convier e pronto é só juntar tudinho e mandar costurar, sem esquecer a selecção dos tecidos e VOALÁ!










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